sábado, 22 de agosto de 2015

DINÁ LOPES COELHO, pastora fiel dos artistas do Brasil


Di Cavalcanti liga do Rio e quer saber detalhes sobre sua monumental exposição no MAM (Museu de Arte Moderna) em fins de setembro. Carlos Paes Vilaró está chegando do Uruguai, com problemas de hospedagem, entrevistas. Novo telefonema. É Paulo Mendes de Almeida, não quer atravessar a cidade às escuras. Da casa do presidente, querem saber se Joaquim Bento (Alves de Lima) já chegou. Arnaldo Pedroso d’Horta que está no barzinho, toma seu uísque à espera da reunião. Chega da “Cosme Velho”, apressado, com novas idéias, Arthur Octávio Camargo Pacheco. Diná Lopes Coelho atende a todos a tempo e hora.

Aqui no Museu é sempre assim, e em casa também. Hoje posso dizer que vivo para a arte e os artistas. 

Uma verdade bem dita, ou bendita, como diria a McCann. Diná é a pastora fiel dos artistas do Brasil (Francisco Luís de Almeida Salles). Na sua antessala, no MAN, no Ibirapuera, bem grande, este slogan: 

O artista não é convidado porque é um dos donos desta casa. 

E ali estão afixados bilhetes, cartões, convites. José Antônio da Silva, primitivo preferido de Diná informa estar no Hotel Santa Terezinha, com suas telas prodigiosas. A Escolinha de Arte Pimpolho quer alunos. As galerias Ars Nobile e Rosa Filho anunciam exposições. Ely Bueno ensina a preços módicos gravura e desenho. Michel Veber, da Bahia, está em São Paulo e quer vender Raimundos, João Alves e Caribés – e de troco, ensinar ginástica chinesa (sic). Diná não pára. 

Gosto de ajudar todos os artistas, sem distinções de cara, arte, filosofia, ideologia ou religião. Respeito a arte de cada um. Os artistas são seres privilegiados, criadores de beleza num mundo tão ruim e cruel, cheio de guerras e horrores. O artista enfeita, ilumina, anima a vida da gente, e, só por isso, ou melhor, por isso mesmo, os respeito, admiro e ajudo. 

– Quando começou o seu trabalho no MAN? 

Eu fui secretária geral da 7ª e 8ª Bienais, sendo que esta, montada por mim, sem verbas, dizem ter sido a melhor até hoje... Há três anos vim para cá, quando o MAM recebeu esta sede do nosso inolvidável prefeito Faria Lima. 

Diná é morena, não esconde a graça portuguesa em seus traços. Viva, alegre, inteligente. É casada com o advogado e intelectual Luiz Lopes Coelho. Um grande praça, como ela o define, “bom, alegre, com muito calor humano, com a segurança e a tranquilidade dos homens que tem a consciência e a alma limpas”. 
Luiz Sacilotto, Diná e Flávio Shiró

ARTE BRASILEIRA 

O MAM expõe atualmente o Panorama da Arte Atual, uma noção do que se faz no Brasil nos campos do desenho e da gravura. A mostra tem figurativos, abstratos, arte ingênua – a excelente Eurydice está ali – como o notável Otávio Araújo – e arte cinética. A mostra faz sucesso enorme e Diná está contente. 
Parece que o nosso Museu vai progredindo com a ajuda de bons amigos, como o pessoal do Conselho Estadual de Cultura, da Loteria Federal, o entusiasmo do presidente Joaquim Bento e dos diretores, dos artistas e dos críticos, do público enfim. Já temos um acervo considerado de bom nível – ainda vamos alcançar um dia o museu de Arte, formado por Assis Chateaubriand há muitos anos, em suas andanças internacionais e o Museu de Arte Contemporânea, que era nosso antigo acevo, doado por Francisco Matarazzo Sobrinho à Universidade de São Paulo. Por enquanto somos ainda um museu pobre, embora tão rico de amigos. 

IDEIAS E REALIZAÇÕES 
Esse “museu pobre” já realizou, nestes três anos, três monumentais exposições do panorama da arte atual brasileira. Mostras de grande porte, as obras de Sergio Milliet, Grassmann, Di Cavalcanti, Djanira, Tarsila, Flávio de Carvalho, Charles Delporte, Ítalo Cencini, Seep BArndereck, Bianchetti, Chang Dai Chien, Scliar e outros. Em todos os interregnos, entre uma e outra exposição, explica Paulo Mendes de Almeida, o Museu exibe os exemplares do seu acervo, entre os quais se encontra a “Coleção Tamagni”, importante repositório de obras de determinado período da pintura nacional.

 Diná pede licença. Vai à entrada do MAM, onde está a onça granítica de Brecheret e os “bambus coloridos” de Ione Saldanha. O numeroso o ruidoso grupo de jovens quer entrar, checar o panorama da arte atual brasileira. Diná não opõe objeção alguma: 

A casa é de vocês. Aqui estão os melhores e mais conceituados gravadores e desenhistas do país. Somos um museu moderno, atual, de nível, aberto a todos, principalmente à juventude. 

São 10 da noite. Ela pega o carro e vai para casa, no centro da cidade. Sua empregada já anotou uma dezena de telefonemas, recados. Di continua aflito, no Rio. Mas ali está, feliz e alegre, Luiz Lopes Coelho. Ali estão pelas paredes, outros amigos, Pancetti e Silva, Grassman e Tarasin, Alice Brill, Marina Karam, Flávio de Carvalho, Saavedra e o parisiense Laval. São os amigos artistas que, agora, vão velar o sono da pastora.

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